sábado, 13 de junho de 2015

Até breve, bebê lindo!!


Meu bebê lindo,

Eu nunca tremi ou fiquei tão nervosa para escrever um texto como eu estou agora. É que de todos os rituais de despedida, além de perder você de vista num caixão branco, esse último post é o que está mais me machucando. Sim, meu amor....você se foi, fisicamente, apenas fisicamente. Você foi embora enquanto eu escrevia o penúltimo texto aqui no blog. Eu comecei a escrever umas 09:30h, publiquei às 09:51h e os anjos te levaram por volta das 09:45hs do dia 30 de abril de 2015. Eu publiquei, chorei e fui orar em seu quarto. Minutos depois, o telefone tocou para eu ouvir a pior notícia da minha vida.

Eu estava sozinha em casa quando Dra Karla me ligou. Ela pediu para conversar comigo pessoalmente e no mesmo instante eu sabia que você havia ido embora. Nós choramos juntas ao telefone, eu desliguei e gritei como nunca fizera antes. Minha dor explodiu através da minha voz e talvez toda a vizinhança tenha ouvido o meu clamor por forças a Deus. Seu pai já estava no hospital contigo, mas ele não teve coragem de me ligar. Eu e o seu pai havíamos escolhido duas roupas em especial para você. Uma roupa você usaria quando saísse da UTI e fosse para o quarto e a outra quando saísse do quarto e fosse para casa. Eu peguei a roupa que escolhemos quando você fosse pra casa, um body do Pearl Jam, um macacão branco, luvas e meias vermelhas e levei comigo.

Eu fui para o hospital com seu tio e padrinho, Estevinho. O mesmo caminho que eu fiz durante 157 dias, sem exceção, mas que me pareceu tão estranho de tão perdida que eu me senti. Eu tentei me controlar na rua e manter a calma, mas ao chegar naquele 4º andar e tocar o interfone da UTI, eu percebi que aquela seria a última vez e desabei. Quando eu entrei na UTI, eu vi você nos braços do seu pai. Aos prantos, ele se levantou e me deu você e nós choramos e nos abraçamos contigo entre nós. Dra Karla chorava muito, Lidiane....todas as meninas estavam muito abaladas. Você teve uma parada cardíaca e fizeram de tudo pra te reanimar, mas a sua missão havia se cumprido e era chegado a hora de você partir.

Foi muito difícil ter você em meus braços daquela forma, mas eu não queria deixar de te sentir. Nenhum sangue, secreção ou protocolo importava pra mim. Por isso, pela segunda e última vez, eu troquei sua roupinha. Em seguida, a sua tia Soraya chegou chorando muito. Eu só lembro de que eu disse a ela que estava tudo bem e que ela cuidasse da nossa mãe. Eu fiquei com muito medo de mainha passar mal de novo. Não demorou muito para que os seus avós chegassem e assim todos nós saímos da UTI com você. Eu sonhei tanto com a sua saída dali, Cauê. Eu parei de contar quando completaram 30 altas de bebês naquela UTI. Todo mundo chegava, todo mundo saía e só nós dois continuávamos ali. Eu imaginei tantos cenários, tantas datas, mas nunca passou pela minha cabeça sair com você de lá assim. Eu precisei de muita "entrega, força e fé", o título do texto que eu tinha escrito a poucas horas e eu sei que muitos anjos de luz estavam ali com a gente. Eu tenho certeza disso.

Eu, seu pai e sua avó pedimos para que deixassem a gente colocar você no caixão. Nós te enfeitamos com flores e você saiu do hospital no colo do seu pai. Nós decidimos cremar você e jogar as suas cinzas no mar. No seu velório, todos vestiram roupas claras, filho e foi tudo muito dolorido, bonito e pacífico. No teu rosto havia um semblante de paz, um sorriso discreto tão lindo, meu amor, eu juro. Eu não fui a única que percebi isso. Eu lembro que falei para as pessoas que estavam lá antes do término da cerimônia, mas não sei ao certo o que eu disse. Eu só sei que não houve lamentações. Não houve revolta. Houve entrega, força e fé em Deus.

Cauê, eu sei que a gente se escolheu. Eu sei que nós assumimos essa missão juntos. Foram 157 dias de muita luta, amor e sofrimento, mas nós conseguimos, bebê lindo. Aquilo que prometemos a Deus e a nós mesmos enquanto espíritos em evolução, eu sei, nós conseguimos. E a sua missão foi tão além, meu amor. Você tocou e mobilizou centenas de corações, aproximou e reaproximou tantas pessoas de Deus, fortaleceu a fé de tanta gente. Eu e o seu pai ouvimos muitos relatos sobre isso, Cauê. Por outro lado, a saudade dói demais. A necessidade de tocar, cheirar, beijar, ver você ainda é muito, muito forte, filho. Mas eu sei que a vontade de Deus é "boa, perfeita e agradável" e Ele nos capacitará - como tem feito - a viver, fisicamente, longe de você. 

Uma certeza eu tenho: esse blog não foi em vão, bebê lindo. Eu sei que o seu anjinho da guarda vai dar um jeito de ler cada um dos textos pra você. Quem sabe Deus não me deixa fazer isso em sonho? Não seria ótimo?! Nos meus planos, eu leria os textos do blog pra te colocar pra dormir enquanto você fosse um bebê. Anos depois, eu te daria o blog no formato de um livro com os desenhos de alguém (eu acho que pediria a Guga ou a Lu de Mari), pois eu mal sei desenhar um gato. Isso seria quando você completasse uns 6 ou 7 anos e soubesse ler. E aos 18 anos, eu te daria ele novamente, só que um livro mais moderno para você ler e apreender cada texto num outro momento da sua vida, mas com o mesmo objetivo: sentir o quão guerreiro e amado você foi e sempre será.

Hoje faz exatamente um ano que você entrou na minha vida, Cauê. No dia 13 de junho de 2014, o resultado de um exame mudaria para sempre a minha cabeça, a minha alma e o meu coração. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. O meu melhor passado, o meu melhor presente, o meu melhor futuro. Obrigada por tudo, bebê lindo. Por cada sorriso, por cada toque, por cada olhar, por cada gesto seu. Eu fiz o melhor que eu pude, meu amor. Eu fiz de tudo pra ter você aqui e faria novamente, meu amor. Mas os planos de Deus eram outros e, por mais duro que seja aceitar e entender, Ele faz tudo certo, filho.

Desculpa, Cauê, mas a cada frase que eu digito, eu sinto que tá ficando mais difícil de escrever. As lágrimas não me deixam ver o teclado e eu já não consigo me concentrar. Um filme passa pela minha cabeça com tudo que vivemos e com tudo que eu tanto sonhei viver ao seu lado. Dói tanto, meu amor, tanto. Por isso, para a gente não alimentar a dor da despedida desse blog, mainha vai ficando por aqui com a alegria e a emoção do vídeo que eu fiz quando eu e seu pai demos a notícia para os seus avós  de que você estava chegando. Nessa época, eles estavam morando com a gente porque o apartamento deles estava em reforma. Esse é um momento que eu vou guardar para sempre na memória do meu coração.

Eu não quero que você pense que estou encerrando um ciclo hoje, filho. Eu não deixarei de conversar contigo e, talvez, até de escrever pra você. O que muda é que agora não será mais por aqui, mas nós estaremos sempre juntos em pensamento e sentimento. Talvez eu escreva pra você na areia da praia ou numa folha de papel pouco antes de dormir...mainha sempre dará um jeito de estar por perto. Eu te amo, meu Cauê. Eu te amo muito e guardarei esse amor bem aqui, dentro do meu peito, para sempre, enquanto espero o dia de a gente se reencontrar para vivermos plenamente esse amor longe de qualquer tipo de dor.

Eu nunca te direi "adeus", meu filho. É só um até breve, bebê lindo... até breve!!






Um comentário:

  1. Este é o verdadeiro amor de mãe, Sandryne, o qual você jamais deixará de sentir. Que Deus continue te ajudando e confortando o seu coração e da sua família. Medite no que está escrito no Evangelho de João, capítulo 13 e versículo 7, primeira parte: "Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois".
    Beijos

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