sábado, 17 de janeiro de 2015

Sexta e sétima semana: o primeiro quilo e o ano novo



Oi meu bebê lindo,

Quando eu percebi que não conseguiria te escrever toda semana, eu falei para o seu pai que eu decidi te contar os fatos mais bonitos e importantes do período que eu "ficaria longe daqui" . É essa a memória que eu quero que você tenha dessa época e também são esses os momentos que eu e PR queremos guardar. Por isso, hoje eu deveria te contar sobre as nossas duas últimas semanas do ano de 2014, mas quando eu lembro desses dias, o que me leva a suspirar de alegria e faz o meu coração bater mais forte foram dois acontecimentos muito especiais que conquistamos no mesmo dia: o seu primeiro um quilo e a primeira vez que eu e seu pai vimos e tocamos em você juntos. 

Como eu te falei, você nasceu com 760g, meu amor, mas depois você perdeu um pouco de peso e chegou a 695g. E numa UTI neonatal - o local onde você está agora sendo muito bem cuidado - o desejo e a expectativa por cada grama é muito grande. É que lá no hospital (e em quase todos os outros), um bebê só pode sair desse local quando atinge entre 1.800kg e 2kg. Por isso, todos os dias as tias em forma de anjo pesam os bebês e eu sempre perguntava o seu peso. Só que bebês prematuros ganham peso muito devagar e você ainda foi um prematuro extremo, filho. Ou seja, nasceu com menos de 1kg e isso torna tudo ainda mais difícil. E eu juro que eu estava tentando lidar numa boa com as perdas de suas gramas , Cauê. Como algo que faz parte da prematuridade e tal, mas com o passar - lento - do tempo, eu fiquei cada vez mais aflita e ansiosa com isso. É que cada grama a menos é como se fosse um tempo a mais para continuarmos distantes fisicamente e isso é ruim demais de sentir, filho.

Por isso, eu passei a perguntar o seu peso só uma vez por semana. Assim eu só saberia a média da semana e não acompanharia tanto as perdas. Mas o seu pai continuou sabendo todos os dias e após 37 dias, você chegou no tão sonhado 1kg. Três dias antes o seu peso era 995g. Nesse dia eu tive que sorrir....você não podia ter ganho cinco graminhas a mais? Sua pediatra Dra Karla e as tias da UTI disseram que você estava tirando onda com a gente. Mas não, você não podia ter ganho mais cinco graminhas porque o seu ritmo, o seu tempo é outro e todos nós temos que aprender a respeitar e a lidar bem com isso. E nós estamos aprendendo, bebê lindo. Pode ter certeza disso!

Você esperou o último dia do ano para atingir esse marco em nossas vidas, Cauê: 31 de dezembro de 2014 foi um dia de festa. Como de costume, nós chegamos no hospital e eu fui tirar leite pra você e o seu pai foi te ver. Cinco minutos depois, eu recebi uma mensagem dele com a notícia: 1kg!! Eu pulei sentada na cadeira, filho. Comecei a chorar ali mesmo, sozinha, e agradeci a Deus. Quando saí da ordenha, eu e seu pai nos encontramos e nos abraçamos muito emocionados. E ao te ver, eu mal conseguia te tocar, meu amor. Eu estava tremendo de tanta alegria. Na hora do almoço, nós saímos do hospital e compramos uma mini torta e uma vela com o número 1 pra comemorar com os seus avós, padrinhos, sua bisavó Lídia e sua tia avó Peta. Foi tão lindo, filho. Todo mundo pulando, chorando de alegria....uma emoção tão gostosa de sentir.

E à noite, eu, seu pai e sua dinda Dani voltamos para o hospital para passar o reveillon com você. Sim, mesmo sem poder te ver, a sua dinda foi com a gente só pra ficar mais perto de ti. E filho, talvez hoje, ao ler esse texto, você já perceba o quanto a sua dinda é "disputada". Dani teria uma dezena de lugares com festas e fogos pra passar o reveillon, mas ela quis ficar com a gente, bebê. E essa foi a primeira grande prova de amor dela por ti. Eu fiquei muito tocada com a atitude dela e se é que era possível, eu acho que passei a amá-la ainda mais.

E nós fizemos a nossa festa no hospital, pois além de nós, outros pais de bebês da UTI também decidiram ficar com seus filhos na chegada de 2015. Aí na foto acima estão Letícia e Neto (pais de Duda), Ronailda e Hermanny (pais de Hermanny Filho) e Giselle e Nino (pais de Henrique). Cada casal ficou responsável por levar alguma comida e bebida e fizemos uma verdadeira ceia. Depois eu vou escrever um texto só pra te falar deles e da amizade que criamos pela dor e pelo amor por vocês. Antes das 22hs estavam todos lá, conversando, comendo e felizes, filho. Vocês estavam vivos e lutando pela vida e isso era tudo que importava pra gente naqueles últimos instantes do ano. E assim, quinze minutos antes da meia noite, o hospital, numa decisão inédita, deixou os pais entrarem juntos na UTI e ficarem com seus bebês por meia hora. Eu e PR não te colocamos nos braços, mas tocamos em você. Cada um numa janela da incubadora com as nossas mãos se encontrando e te curtindo . Foi tão mágico, meu amor. Eu desejei tanto esse dia!!

Perto da meia noite, as tias em forma de anjo disseram palavras lindas e a médica de plantão, Dra. Adriana, disse que nunca tinha vivido aquilo em muitos anos de profissão e que tinha certeza que todos sairiam vencedores dali porque vocês eram verdadeiros guerreiros. Todos nós oramos, choramos e desejamos feliz ano novo uns aos outros. Eu fiquei arrepiada do início ao fim, meu amor. Havia uma energia muito linda ali dentro. Eu nunca esquecerei dessa noite. Nunca!! E 2014 terminou com um saldo de alegria e gratidão, filho. Foram dias muito difíceis, mas você estava ali. Nós sabemos que a jornada será longa, Cauê. Eu não sei quando será o dia em que eu vou te trazer pra casa, mas podemos olhar o lado bom: nós estamos vivos e juntos. E eu e o seu pai estamos e estaremos sempre ao seu lado, meu amor. E assim continuaremos "desde o fim até o começo". 

Eu te amo, meu bebê lindo. Incrivelmente, cada dia mais.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Nossa trilha sonora na UTI e na vida

Oi bebê lindo,


Eu acho que você já percebeu que a mamãe adora música, não é?! Quando estava grávida de você, eu lia muito sobre músicas para bebês e um dia eu li sobre a importância das mães cantarem para os seus filhos. Poucas semanas após ter descoberto isso, você já podia me ouvir dentro da barriga e aí eu passei a cantar sempre pra ti. Cantava tomando banho, dirigindo, cozinhando. Eu achava aquilo o máximo e seu pai sempre dizia "coitado do Cauê"....rsrsrsrs

Depois que você nasceu, eu lembro bem da primeira vez que eu cantei pra você. Eu entrei na UTI para te ver e as tias em forma de anjo me receberam com muito carinho e disseram que eu podia  falar com você e te tocar. Eu estava muito frágil por tudo e me assustei com o teu tamanho tão pequeno, mas elas insistiram para que eu conversasse com você. Só que as palavras não saíam, filho. Eu não sabia o que te dizer e por isso eu resolvi cantar. E cantei pra você a música que todos os dias durante a gravidez você ouviu: Better Days, do Eddie Vedder.

Essa música marcou a minha vida, Cauê. Ela fala de esperança, fé e energia. Mesmo sendo em inglês, eu sentia que você entenderia todo o amor que há nela. Por isso, eu abri a janela da incubadora e, segurando o choro, eu cantei pra você. E assim eu tenho feito todos esses quarenta dias completados hoje. E assim eu continuarei fazendo, pois ela nos lembra todos os dias que "o futuro está pavimentado com dias melhores". Eu coloquei o clipe da música aí abaixo pra você ler a tradução dela em português. Se a legenda estiver rápido demais, chama mainha que eu leio pra você.

                                                 Better Days (Eddie Vedder)


Alguns dias depois e eu estava conversando com uma das tias em forma de anjo, a Lidiane, e ela me falou dos benefícios de cantar para bebês prematuros. Ela disse que o som da voz da mãe junto à melodia, ao embalo de uma canção, acalmava e equilibrava as batidas dos corações dos pequenos. Daí eu comecei a pensar em músicas que eu gosto muito e que diriam algo bonito que eu gostaria que você soubesse. 

Além de Better Days, a outra canção que me veio em mente foi a de um cantor chamado Tim Maia e o nome da música é Você. Eu quase sempre me emociono quando eu canto ela pra ti, filho. É que no começo dessa fase difícil eu tinha um medo absurdo de te perder. O medo estava me consumindo porque o meu amor por você só aumentava. Eu conversei sobre isso com a sua madrinha, a dinda Dani, e ela me disse que a minha força tinha que ser maior do que o meu medo. Desde então, eu repito todos os dias quando vou para o hospital: "acima do meu medo, a minha força, a minha coragem e a minha fé. Cauê não vai embora, ele vai vencer."

Você é tudo pra mim, bebê lindo, mas você não vai embora e eu não vou morrer de saudades. Eu já tenho certeza disso!!

                                                           Você (Tim Maia)


E a terceira música que eu mais tenho cantado pra ti é de uma banda de reggae chamada Maskavo. Anjo do céu é uma canção tão bonita e singela, Cauê. Eu sinto uma gratidão enorme no coração quando canto ela pra você. E sempre termino a canção dizendo a Deus que eu vou honrar a escolha dele em ser a tua mãe. Cantar essa música com você nos meus braços é um momento mágico, filho. O mundo parece que pára fora daquela UTI, que só existe eu e você. Nossos anjos de guarda devem gostar dessa canção, afinal, com a permissão de Deus, eles se escolheram.

                                           Anjo do Céu (Maskavo)


Essas não são as únicas músicas que eu canto pra ti, mas são as principais. Guarde-as no ouvido da alma e do coração, meu amor. 

E agora que tal a gente escutar alguma dessas músicas e dançar abraçadinhos? rsrsrsrs Ao escrever esse texto, eu só estou sonhando com esse momento, filho, mas eu tenho certeza que nós poderemos realizar esse e todos os sonhos que quisermos sonhar. E,de preferência, com uma trilha sonora bem linda pra acompanhar tudo o que vier pela frente

Eu te amo, meu amor...com toda força do meu coração