domingo, 15 de fevereiro de 2015

"Meu amorzinho", nossa médica do corpo e do coração




Oi meu amor,


Esse vídeo lindo aí acima foi feito no dia 13 de fevereiro de 2015. Essa foi a primeira vez que você usou uma roupa em sua vida, após 81 dias de nascido. Isso é um acontecimento tão simples para mães de bebês que não vão para a UTI, mas pra mim foi um momento muito sonhado e desejado. Até esse dia, tudo que eu pude escolher foram suas luvinhas e meias e na primeira vez que me deixaram escolher isso, eu chorei emocionada.

E sabe quem é essa mulher linda que está te vestindo e conversando contigo cheia de amor? É a Dra. Karla, bebê lindo. Ela é a sua neonatologista. Esse é o nome dos médicos que cuidam de bebês que nascem antes do tempo, os prematuros, e ficam onde você está, na UTI neonatal.  Eu pedi a ela uma autorização pra você usar uma fantasia no carnaval e ela não só deixou, como vestiu você. Seu pai registrou o momento e ela me chamou pra te ver. Eu senti meu coração bater tão forte quando te vi, Cauê. Você ficou tão lindo de azul, de super bebê Cauê!!

Não foi combinado que ela te vestiria, mas pra mim isso foi tão significativo. Isso porque ela é muito importante em nossas vidas, filho. Na minha e na sua. Muito mais importante do que ela ou qualquer outra pessoa possa imaginar. A maioria dos médicos não acreditam em Deus, meu amor. Um dia eu tento te explicar melhor a razão disso. Mas ela não só acredita como conversa comigo por Ele. Muitos dos meus pensamentos e orações feitos a Deus foram respondidos, de alguma forma, por ela. Ela te chama de "meu amorzinho", Cauê. E eu sinto dentro do meu coração o quanto ela gosta de você.

Dra. Karla é de São Paulo, filho, a cidade do seu pai. Além de paulista, ela é corintiana, time do seu pai, e tem uma das gargalhadas mais gostosas de ouvir. Ela acredita tanto em você, filho. Ela aposta tanto em você. Dra. Karla é uma médica profissional e humana, meu amor. Ela me trata como Sandryne, mãe do Cauê e não como mais uma mãe de UTI. Ela te trata como Cauê, meu amorzinho e não como o bebê do leito 23. Ela me conhece só de olhar. Ela sabe os dias que eu estou pra baixo e os dias que eu estou cheia de energia. Ela me ajuda a te conhecer, filho. Não só pela experiência, mas pelo olhar de ternura que ela te dá.

Dra. Karla é um presente em nossas vidas, bebê lindo. Muitas vezes, ela acredita mais em você do que eu consigo acreditar. Como eu te disse antes, você saiu do oxigênio por 13 dias, mas depois voltou. Amanhã faria um mês livre do oxigênio se você não tivesse voltado a usar. Esse é um processo difícil, dolorido e que precisa de muita paciência, carinho e tentativas. E quando a gente tenta e você fica mal, eu tenho vontade de pegar o oxigênio e dar logo pra você, mas ela me acalma e me ajuda a entender que a gente precisa insistir e acreditar que você será capaz de respirar sozinho. E eu tenho certeza que esse momento vai chegar e que você nunca mais precisará de novo. E quando você puder ler esse texto, filho, respire e agradeça a Deus e a Dra. Karla. Sem ela, isso não seria possível.

Ela entrou em nossas vidas pra nunca mais sair. Eu vou lembrar dela quando você falar, quando você andar, quando você for à escola, quando você se formar, quando você se casar....em cada momento de sua vida, ela estará presente na minha memória e no meu coração. Deus se faz presente de diversas formas, Cauê. E todas as vezes que ela está naquela UTI,  pra mim é a mão de Deus num corpo humano cuidando de você.

Filho, esse blog é pra ti, mas esse recado é pra ela: "minha flor, eu sei que ainda há um longo caminho para percorremos juntos no hospital. Não desiste de Cauê, não desiste de mim, obrigada por tudo e eu amo você."

Continua lutando, meu guerreiro. 
Eu continuo esperando você e guardando todo o meu amor.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Oitava e nona semana: sem oxigênio e dois meses





Oi meu bebê lindo,

A sua oitava e nona semana foram, talvez, as mais especiais de todo esse período. Isso porque algo que a gente esperava e desejava a muito tempo aconteceu: você saiu do oxigênio. Eu não sei se você já aprendeu isso na escola, filho, mas nós precisamos desse tal oxigênio para respirar. E como você nasceu muito prematuro, o ato de respirar é algo muito difícil de fazer porque o seu pulmão - o último órgão que amadurece quando um bebê está dentro da barriga da sua mãe - é muito frágil.

Isso aconteceu exatamente no dia 14 de janeiro de 2015. Dra Karla, a sua pediatra, me chamou para mostrar uns exercícios que seria legal eu fazer com você. Ela nunca admitiu isso claramente pra mim, mas eu tenho quase certeza que ela me chamou na verdade pra presenciar esse momento mágico. Então ela começou a me mostrar os exercícios e, de repente, ela tirou o seu cateter nasal ( o aparelho que liberava o tal do oxigênio pra você). Filho, eu vi você nascer ali. Quanto ela tirou o cateter e o monitor ( o aparelho de "televisão" que mostra como o seu coração está batendo e como você está respirando) informou que você estava respirando bem, eu me tremi inteira.

Cauê, toda a lembrança ruim que eu tinha do parto, toda aquela tensão e medo que eu nunca esqueci foram embora naquele momento. Eu orei tanto por aquilo, filho. Eu sonhei tanto com aquilo. Você passou por três tipos de aparelhos diferentes pra te ajudar a respirar e tudo que eu queria era te ver respirar sozinho. Eu sabia que havia o risco de você voltar para algum dos aparelhos por causa da fragilidade do teu pulmão e você foi um guerreiro, Cauê. Você conseguiu respirar sozinho por 13 dias. Até uma anemia te deixar mais frágil e você voltar a respirar com ajuda. Hoje, 05 de fevereiro, você continua precisando de suporte, mas você vai conseguir respirar sozinho de novo e aí estará mais forte e nunca mais precisará de aparelho nenhum. Eu confio em você, meu amor.

Outro momento lindo da gente foi o canguru que a tia da Jô nos proporcionou. Foi a primeira vez que eu senti a sua pele junto da minha e foi tão incrível, Cauê. Nenhuma incubadora, nenhum lençol, nenhuma roupa entre nós. Eu chorei emocionada, filho. Nós ficamos assim, grudados, por quase duas horas. Eu fiquei sentindo a tua respiração, o teu cheiro de um jeito único. Um amor tão grande tomou conta de mim. E coincidência ou não, eu estava com uma camisa do Pearl Jam. Essa foi quase a primeira roupa que você vestiu...rsrsrs. 

Poucos dias depois você completou 2 meses. No teu primeiro mês foi a mesma coisa: uma mistura de alegria e tristeza. Alegria pela sua vida, por estarmos juntos, mas uma dor enorme por você ainda estar na UTI, por continuarmos, de toda forma, separados, por eu não poder ter e viver com você o que seria natural estar vivendo. Não é fácil, bebê lindo. Eu e seu pai nos comprometemos a só te dizer por aqui o que for bom - e você pode ter certeza que nós estamos cumprindo - mas às vezes eu sinto que preciso desabafar com você. Às vezes eu acho que só você me entende. Eu e você temos as mesmas necessidades e dependência um do outro. Deve ser por isso. Por isso eu te peço tanto pra lutar e não desistir da sua vida, pois a sua vida já é a minha também. 

Meu amor, eu te amo tanto. Eu daria tudo na minha vida pra você não sofrer mais. Eu faria tudo pra sentir todas as suas dores por você. Eu sei que está difícil pra você, mas você vai conseguir, meu bebê lindo. Também está muito difícil pra mainha porque quando você está bem, eu estou ótima, mas quando você está mal, eu estou péssima. Mas eu não vou me entregar, mesmo uma tal de depressão querendo vir me pegar. Não se entrega também, filho. Luta, reage e vamos confiar em Deus e no amanhã. Dias e notícias melhores virão.

Eu continuo te esperando e guardando todo o meu amor. Nunca duvide disso.